quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Você nunca foi à Escola! Como pode saber isso?


Hobbes, o simpático tigre da historinha de Calvin, me deixou com uma pulguinha atrás da orelha. Claro que, por ser um tigre, ele já nasce sabendo aquilo que é indispensável para sua existência. O ser humano adicionou uma outra dimensão ao seu saber; não é somente o savoir faire, ou o 'saber fazer'. Além do conhecimento prático, natural, tão instintivo quando o de hobbes, há também o saber teórico, muitas vezes mais valorizado em nossa sociedade ( ser 'Doutor' sem dúvida é mais prestigioso que ser 'Técnico').

A escola, como lugar de construção do pensamento formal, se constitui como espaço privilegiado para o aprendizado teórico, este sendo altamente influenciado pelas concepções ideológicas mantenedoras do status quo vigente. A escola também deveria ser um espaço privilegiado para reflexões sobre como utilizar esses saberes em sincronia com a futura realidade profissional desses alunos.

A articulação do teórico com o prático é um grande desafio do sistema educacional como um todo. Em uma publicação da revista do Senac, uma dada autora discute tal questão tendo em luz profissionais que trabalham para a Petrobrás. Estes questionavam o tipo de avaliação que era feita de seu trabalho. Muitas vezes as provas contavam com questões teóricas sobre as quais eles não possuiam conhecimento, o que os desqualificava perante seus superiores. Todo o seu saber prático, técnico, que permitia a refinaria funcionar era subjugado por não possuir teorias sobre o que faziam.

O saber perpassa, portanto, diversas dimensões e articulações entre elas. Saber envolve uma sutil dança entre a teoria e a prática, uma podendo se ancorar na outra em determinados momentos. Alguns grandes nomes na história, entre eles Marx e Fellini, acreditam que nós só existimos naquilo que fazemos (citação livre de uma fala de Fellini). Marx especificamente acreditava que era somente através do trabalho que os saberes eram construídos.

Portanto a escola torna-se o espaço para mais essa reflexão: a da atuação como profissionais e cidadãos que os seus alunos irão se deparar. Mais uma vez, momento privilegiado onde o psicólogo pode auxiliar na criação de uma zona de sentido onde seja conceituada a relação entre o teórico fundamental e o prático, com toda a sua sabedoria não pensada.

Na Universidade, só podemos começar a 'praticar', a estagiar, após a conclusão de 160 créditos teóricos. Não seria mais proveitoso desde o começo já articular as duas dimensões?

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