segunda-feira, 14 de junho de 2010

Entre Les Murs


Assisti ao filme francês "Entre os muros da Escola" antes mesmo de me inscrever na disciplina. A temática me interessava e eu já estava buscando respostas e reflexões para problemas que surgiam no estágio.

O filme se passa em uma Escola na periferia de Paris, onde grande parte dos alunos são filhos de imigrantes de diversos países e etnias. O personagem principal é um professor de Francês chamado François.

O ator que interpreta esse professor é François Bégaudeau, escritor, jornalista, professor e autor do livro "Entre les Murs", que deu origem ao filme. O livro é baseado em fatos reais e conta a experiência deste autor quando trabalhava em um liceu nos arredores de Paris. O argumento do filme foi construido por ele e pelo diretor; os "alunos" do filme são realmente alunos de um liceu francês, que tiveram aulas de dramatização e utilizam seus nomes reais.

Decidi assiti-lo após declaração do diretor Laurent Cantet: "Todos produzem discursos ideológicos na escola, mas muito poucos a conhecem e vão ver como funcionam." Concordei furiosamente e fui à locadora.

É representado o cotidiano de uma escola, com cenas corriqueiras na sala de aula, na sala dos professores, no pátio. Realmente impressiona pela realidade. Neste ponto, vai de encontro à proposta do diretor: um choque de realidade para aqueles que muito falam e nunca viveram o ambiente escolar.

Recriou-se, portanto, um microcosmo de milhares de outras escolas mundo afora. Ser professor ali vai além da preparação pedagógica: é um exercício de paciência, de resistência à frustração, de criatividade; tudo isso para tentar imbuir nos alunos o respeito, o bom convívio social, a educação, além do conteúdo formal ali ministrado.

A realidade dos professores é muito bem colocada. Primeiro aparece a convivência amena na sala dos professores. Um dia, chega um professor mais exaltado, frustrado, sinais de burnout. Em seguida, mostra as próprias dificuldades do ator principal. As boas intenções que quase sempre se chocam com o comportamento agressivo dos alunos, desafio a autoridade, conflitos entre os alunos, etc.

Às dificuldades naturais do ambiente escolar, somam-se os problemas sociais que aquele grupo específico de adolescentes vivem. Falta de recursos, a realidade do imigrante, atritos entre eles, etc.

http://www.youtube.com/watch?v=t8HWJqgMAhU



Embora o filme não traga nenhuma reflexão teórica mais profunda, o realismo com que os conflitos são retratados no filme se tornam matéria prima para reflexões diversas. Até mesmo para pensar qual seria o papel do Psicólogo nessa escola.

No mundo de lá.


Henri Wallon, em sua teoria de desenvolvimento, afirma que a evolução fez do homem um ser genéticamente social. A gênese da inteligência é, portanto, biológica e social; a nossa estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura. Dessa forma, para Wallon, o desenvolvimento da criança aparece como resultado de amadurecimento fisiológico e condições ambientais, sendo os dois elementos indissociáveis.
A idéia de desenvolvimento concebida por Wallon sempre falou a mim de uma forma próxima, muito familiar. Mesmo nos primeiros passos como aluna de Psicologia, esta concepção de homem genéticamente social fazia muito sentido. Agora, ao me aproximar rapidamente da conclusão do curso, carrego com muito carinho as primeiras leituras de Wallon e percebo o quanto esta concepção permeia a minha formação - e como serviu de guia para a minha experiência profissional.
Me sinto privilegiada, pois o meu primeiro contato com Psicologia Escolar foi primeiramente prático; antes que pudesse aprender formalmente sobre o tema, surgiu uma oportunidade de estágio em uma escola particular no DF. Fui trabalhar despida de qualquer racionalização teória: o saber veio das frustrações, das dúvidas, das inquietações, da convivência e supervisão de quem já era do ramo. Quando pintava uma dúvida, era para os livros que eu corria, para o estudo solitário. Era para acertar a prática que ia buscar teorias, filosofias, estudos, simpatias de boa-sorte (risos). Enfim, buscava saberes para dar conta da demanda diária.
Agora com essa experiência terminada, venho para a sala de aula à procura de novos significados. E de novas perguntas também, por quê não? Encerro lembrando que Wallon também afirmava que os conflitos são as molas propulsoras do desenvolvimento - sem ele, não há crescimento e nem aprendizagem.


Bem-vindo ao meu Blog-Portfólio. Meu diário de bordo nas desventuras teóricas no mundo da Psicologia Escolar.